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“Não há espaço para que o nuclear entre no país”

19/11/2010
António Sá da Costa
27 Outubro 2010 | 16:19
Miguel  Prado  – miguelprado@negocios.pt
 

 

O presidente da Apren acredita que é impossível Portugal vir a acolher energia nuclear até 2020… tal como Cristiano Ronaldo vir a jogar no Futebol Clube da Picheleira no próximo ano.
O presidente da Apren, a associação portuguesa de energias renováveis, é categórico: “Não há espaço para que o nuclear entre no país”, afirma António Sá da Costa, assinalando que os planos governamentais traçados até 2020 contemplam apenas renováveis e centrais térmicas a gás natural.

António Sá da Costa recorreu a uma curiosa analogia futebolística para reafirmar a sua convicção. “Podemos discutir o que quisermos sobre o nuclear, mas até 2020 não há espaço nenhum. Da mesma maneira que podemos dizer que Cristiano Ronaldo vai jogar no próximo ano no Futebol Clube da Picheleira. Não vai jogar”, apontou o presidente da Apren.

Falando na conferência que a Apren está a realizar em Lisboa sobre “Electricidade renovável”, em parceria com o Negócios, António Sá da Costa voltou a criticar a falta de ambição do Governo nas suas metas para a potência solar a alcançar em 2020. A estratégia do Governo estima uma capacidade solar de 1.500 megawatts (MW), mas o sector privado acredita num potencial para 2.500 MW.

“A Alemanha prevê para 2020 que 7,6% da sua electricidade tenha origem solar e a Alemanha tem muito menos insolação que Portugal [que propõe pouco mais de 2% de contributo da energia solar para a geração eléctrica em 2020]”, referiu António Sá da Costa.

Na mesma conferência, o director geral de Energia e Geologia, José Perdigoto, já havia afirmado que “Portugal terá de fazer um esforço grande para cumprir as metas”, mas que “muito do trabalho já está feito”, dado que boa parte da potência prevista para 2020 já foi licenciada ou está em fase de concurso.

Por outro lado, José Perdigoto, afirmou que “o sistema energético tem de contribuir para a economia, mas também tem de ser sustentável por si só”.

Eduardo Oliveira Fernandes, outro dos oradores da conferência da Apren, aproveitou a sua intervenção para sublinhar a importância da aposta do país nas renováveis, referindo que “seria um erro de lesa pátria se alguém pusesse areia nesta engrenagem”.

Carlos Pimenta volta a gritar “nuclear não, obrigado”

13/09/2010

Universidade de Verão do PSD

02.09.2010 – 14:24 Por Luciano Alvarez

Portugal não tem trabalhado mal nos últimos dez anos nas políticas de defesa do ambiente mas ainda há muito a fazer e ninguém pode ser dispensado desse combate. Foi de forma intensa que o ex-secretário de Estado do Ambiente e das Pescas em vários governos PSD (1983 a 1987) Carlos Pimenta deixou hoje esta mensagem na Universidade de Verão social-democrata, a decorrer em Castelo de Vide. Há uma coisa a que Carlos Pimenta continua a dizer um sonoro “não”: à energia nuclear

Para o actual director do Centro de Estudos em Economia da Energia dos Transportes e do Ambiente e membro do conselho de administração de várias empresas, a prioridade número um em Portugal em matérias energéticas deve ser a eficiência energética “porque não há possibilidade de ser competitivo e economicamente sustentável se utilizarmos mal aquilo que compramos lá fora”. E lembrou que Portugal compra 80 por cento da energia que consome.

E quando se fala em utilizar bem a energia, Pimenta diz que não fala apenas na electricidade, pois a maior parte da energia que importamos e consumimos “é gasta nas casas em calor de baixa temperatura”, (duches, aquecimento da casa, equipamentos das casas) “e na mobilidade” (carros e transportes). “Essa é a área onde mais há por fazer e que deve ser mais apoiada em termos de políticas. Fazer com que as casas sejam melhor construídas, tenham energias renováveis e bem aplicadas e acabar com os engarrafamentos de carros só com uma pessoa”, acrescentou.

Postos de trabalho

Carlos Pimenta afirma que a área que correu melhor nos últimos dez anos e que está mais desenvolvida é a das energias renováveis. Lembra, porém, que a aposta tem de continuar: “Hoje estamos a 40 por cento da electricidade vinda das energias renováveis, sobretudo da água e do vento. Dentro de dez anos, se a aposta continuar, podemos estar a 60 por cento. E se a aposta continuar isso significa também a criação de milhares de postos de trabalho.”

Mas, lembra, “não podemos esquecer que a electricidade é menos de um quarto da energia que consumimos em Portugal”. Agora os outros 75 por cento são gastos em transportes e calor de baixa temperatura nos edifícios. E, por isso, a aposta das políticas tem de ir neste combate: “Isso é onde menos se fez em Portugal desde sempre. Temos saber e pessoas em Portugal para mudar e temos que transformar esse saber em norma, porque isso também cria milhares de postos de trabalho e poupa milhões em importações.”

A discussão em torno da utilização em Portugal de energia nuclear voltou recentemente à discussão no país. O debate está em curso. “Nuclear não, obrigado. Não é preciso, é caro, é arriscado e produz resíduos. Não temos qualquer necessidade do nuclear em Portugal”, afirma ainda Carlos Pimenta.

http://www.publico.pt/Sociedade/carlos-pimenta-volta-a-gritar-nuclear-nao-obrigado_1454059

Portugal ganha liderança em energia limpa

08/09/2010

De sua edição semanal na Folha de S.Paulo desta Segunda 30/ago:

Por ELISABETH ROSENTHAL

LISBOA – Há cinco anos, os líderes de Portugal, nação ensolarada e varrida pelo vento, fizeram uma aposta: para reduzir a dependência do país em relação aos combustíveis fósseis importados, eles implementaram diversos projetos ambiciosos de energia renovável, aproveitando o vento, os rios, o sol e as ondas locais.

Hoje, os bares de Lisboa, as fábricas da cidade do Porto e os glamourosos resorts do Algarve são alimentados substancialmente por energia limpa. Quase 45% da eletricidade colocada na rede portuguesa neste ano virá de fontes renováveis.

E Portugal espera se tornar no ano que vem o primeiro país a inaugurar uma rede nacional de abastecimento de carros elétricos.

“Já vi todos os sorrisos -você sabe: ‘É um bom sonho, [mas] não dá para competir, é caro demais'”, disse o primeiro-ministro José Sócrates.

Para estimular a transição energética, o governo reestruturou e privatizou antigas estatais elétricas, para criar uma rede mais adequada às fontes renováveis de energia. Para atrair empresas privadas ao novo mercado, Lisboa ofereceu-lhes contratos que selavam um preço estável por 15 anos.

Antigas preocupações sobre a confiabilidade e o custo elevado foram superadas. As luzes se acendem em Lisboa mesmo quando o vento não sopra na ampla usina eólica do Alto Minho, inaugurada há dois anos. Os custos da produção elétrica e as tarifas ao consumidor estão em torno da média europeia.

Portugal diz que tem conseguido manter os custos baixos por priorizar as formas mais baratas de energia renovável -eólica e hidrelétrica- e reduzir gradualmente subsídios pagos para convencer empresas a construir novas usinas. Quando a nova infraestrutura estiver completa, o sistema vai custar anualmente cerca de ? 1,7 bilhão a menos do que antes, segundo Manuel Pinho, ex-ministro de Economia e Inovação e um dos principais mentores da transição.

No ano passado, pela primeira vez, Portugal exportou mais energia do que importou, ao vender uma pequena quantidade de eletricidade para a Espanha. Dezenas de milhares de portugueses trabalham no setor.
A Energias de Portugal, maior empresa do setor no país, é dona de usinas eólicas em Iowa e no Texas, por intermédio da sua subsidiária americana, a Horizon Wind Energy.

Portugal deu o primeiro passo em 2000, ao separar a distribuição da produção. O governo adquiriu, a preços de mercado, todas as linhas de transporte de eletricidade e gás. Em seguida, leiloou contratos para que empresas privadas construíssem e operassem usinas eólicas e hidrelétricas.

Manter o país à base das forças altamente imprevisíveis da natureza é algo que exige novas tecnologias, além de habilidades dignas de um malabarista.

A estatal Redes Energéticas Nacionais usa um sofisticado sistema para prever o clima, especialmente o vento, e desde o início da transição duplicou o número de controladores encarregados de direcionar a eletricidade.

“É uma operação em tempo real, e há muito mais decisões a serem tomadas -a cada hora, a cada segundo”, disse Victor Baptista, diretor-geral da REN.

Alguns dos programas combinam energia eólica e hidrelétrica: turbinas alimentadas pelo vento empurram água morro acima durante a noite, o período em que venta mais; durante o dia, quando há maior demanda, a água desce o morro, gerando eletricidade.

O sistema de distribuição em Portugal agora também é de mão dupla. Em vez de simplesmente entregar a eletricidade, ele capta energia até dos menores geradores, como painéis solares instalados no teto de imóveis.

A enorme aposta portuguesa na energia limpa não agradou a todos -inclusive a muitos ambientalistas para os quais as turbinas eólicas interferem no comportamento dos pássaros, e as represas destroem o habitat do sobreiro, árvore de que é feita a cortiça.

O preço da eletricidade doméstica em Portugal aumentou 15% em cinco anos, segundo a Agência Internacional de Energia. Além disso, os projetos de energia limpa nem sempre geram muitos empregos. Há mais de cinco anos, por exemplo, a isolada cidade de Moura recebeu a maior usina solar de Portugal.

Mas, se 400 pessoas construíram a usina, só 20 a 25 trabalham lá agora.
Apesar disso, especialistas consideram a experiência portuguesa um notável sucesso, e outros países estão imitando-a. Segundo a consultoria americana IHS Emerging Energy Research, até 2025 Irlanda, Dinamarca e Reino Unido também obterão 40% da sua eletricidade de fontes renováveis.

Os EUA ficarão para trás, com 16%.

“A experiência de Portugal mostra que é possível fazer essas mudanças em um período curtíssimo”, disse Sócrates.