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Hiroshima pede fim das armas nucleares no 65º aniversário da bomba atômica

13/08/2010

De Agencia EFE

Tóquio, 6 ago (EFE).- Pedindo o fim das armas nucleares, a cidade japonesa de Hiroshima lembrou nesta sexta-feira o 65º aniversário do lançamento da primeira bomba atômica, em cerimônia que, pela primeira vez, teve participação oficial dos Estados Unidos e do secretário-geral das Nações Unidas.

Além do embaixador dos Estados Unidos no Japão, John Ross, participaram da cerimônia, também pela primeira vez, representantes de Reino Unido e França – aliados na Segunda Guerra Mundial e hoje potências nucleares – e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, com diplomatas de outros 70 países.

Às 8h15 locais (20h15 de quinta-feira em Brasília), exatamente a mesma hora em que o avião americano “Enola Gay” lançou a bomba atômica em 1945, as 55 mil pessoas que, segundo a agência local “Kyodo”, se reuniram no Parque da Paz de Hiroshima, fizeram silêncio.

O parque ocupa a esplanada deixada pela detonação da bomba de urânio “Little Boy”, que arrasou Hiroshima, uma cidade que contava então com cerca de 350 mil habitantes, segundo cálculos atuais.

Cerca de 80 mil pessoas morreram na hora, e no fim de 1945, o número de mortes já chegava a 140 mil. Muitas outras pessoas faleceram em decorrência das radiações nos anos posteriores.

Três dias depois do ataque, os EUA lançaram a segunda bomba nuclear sobre a cidade de Nagasaki, causando 74 mil mortes até o final daquele ano, levando o Japão à rendição e colocando fim à Segunda Guerra Mundial.

Na cerimônia que marcou os 65 anos da tragédia, o prefeito de Hiroshima, Tadatoshi Akiba, pediu para o Japão abandonar o “guarda-chuva nuclear” dos EUA, país que após a Segunda Guerra Mundial se tornou seu principal aliado de segurança.

Perante um público que incluía o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, Akiba prestou homenagem aos mortos e aos “hibakusha”, como são conhecidos os sobreviventes do desastre atômico, que “sem entender a razão, se viram envolvidos em um inferno além de seus piores pesadelos”.

O pedido do prefeito teve pronta resposta do primeiro-ministro do Japão, que após a cerimônia afirmou que a proteção nuclear dos EUA “continua sendo necessária” para o Japão, embora ao mesmo tempo tenha assegurado que o país tem a responsabilidade moral de liderar a luta contra as armas atômicas.

Tanto Kan quanto Akiba agradeceram a presença oficial na cidade de representantes de EUA, Reino Unido e França, potências nucleares que nunca antes tinham enviado representantes ao aniversário do bombardeio.

O embaixador americano compareceu “para expressar respeito por todas as vítimas da Segunda Guerra Mundial”, segundo comunicado da legação diplomática em Tóquio, que destacou que os EUA e o Japão “compartilham o objetivo comum de avançar na visão do presidente Obama de conseguir um mundo sem armas nucleares”.

O secretário-geral da ONU também reiterou seu compromisso com a abolição das armas atômicas, e mostrou sua esperança de poder celebrar em 2020 a existência de um mundo sem ameaças atômicas.

Ban, que na quinta-feira visitou Nagasaki, propôs fixar 2012 como o ano de entrada em vigor do Tratado para a Proibição de Testes Nucleares (CTBT), assinado em 1996, mas que segue à espera da ratificação de 44 nações, entre elas Estados Unidos e China.

Além disso, se mostrou partidário de convocar reuniões periódicas do Conselho de Segurança para analisar “a situação de nossas promessas e compromissos” no relativo às armas nucleares.

A ampla presença internacional este ano em Hiroshima e, especialmente, a participação do embaixador dos EUA tinha suscitado grandes expectativas na cidade, que esperava alguma indicação sobre uma visita de Barack Obama em novembro.

No entanto, um porta-voz da Casa Branca afirmou nesta sexta-feira que, por enquanto, uma visita à cidade que os EUA arrasaram em 1945 não está nos planos do presidente americano.

O Brasil, o Irã e as armas nucleares

19/03/2010

Atribui-se a John F. Kennedy, um dos grandes presidentes dos Estados Unidos, a declaração de que “governar é escolher entre opções com base em informações incompletas e cujas consequências são muito difíceis de prever”.
O que está acontecendo com o nosso presidente da República é que ele tem envolvido o Brasil, de forma crescente, em problemas delicados da política internacional, como a proliferação nuclear, e corre o sério risco de fazer as opções erradas, comprometendo a posição do País no futuro. Especificamente no caso do Irã, o Brasil envolveu-se num jogo perigoso, que, na prática, encoraja os iranianos a enriquecer urânio em níveis elevados, mantendo aberta a possibilidade de construir armas nucleares, o que conturbará ainda mais a já complicada situação do Oriente Médio.
O que motiva o presidente é provavelmente a ideia de que o Brasil tem também a capacidade de enriquecer urânio e, caso sanções ? ou outras ações ainda mais sérias ? venham a ser impostas ao Irã, elas poderão no futuro ser aplicadas também ao Brasil.
Essa possibilidade não tem sido levantada abertamente até agora, mas nada impede que o seja, na medida em que é questionada a opção política feita pelo presidente Collor em 1992 e depois complementada pelo governo Fernando Henrique. Essa opção foi a de “desnuclearizar” o Cone Sul da América Latina, abandonando programas semiclandestinos que poderiam levar à produção de armas nucleares no Brasil e na Argentina. A criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc), que introduziu inspeções mútuas nas instalações nucleares dos dois países, levou depois à adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, em 1994. Com isso o Brasil (e a Argentina) saiu da lista dos “suspeitos” de alimentar sonhos de se transformar em potência nuclear.
Parte do prestígio internacional que o Brasil conquistou nas duas últimas décadas se deve a esse comportamento responsável, plenamente aberto, em relação à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com a fiscalização adicional da Argentina (que tem todo o interesse em que o Brasil não desenvolva a bomba atômica), além de sua tradição secular de resolver conflitos latentes ou explícitos por negociação e arbitragem.
Desperdiçar esse prestígio respaldando as atividades e intenções duvidosas do Irã nessa área é uma má opção, mas é efetivamente o que está ocorrendo, como demonstra o que aconteceu em novembro de 2009. Nessa ocasião a AIEA aprovou proposta russa de criação de um banco de combustível nuclear (urânio enriquecido para uso em reatores nucleares destinados à produção de eletricidade).
A proposta russa foi de criar, para países que tenham reatores nucleares, uma alternativa de obter o combustível de que necessitem, caso os países produtores, como os Estados Unidos, se neguem a fornecê-lo por motivos políticos. Isso, como se sabe, ocorreu com o Brasil na década de 1970, quando o governo americano se recusou a fornecer combustível para o reator de Angra-1 em razão de atritos existentes, na ocasião, com o governo brasileiro decorrentes da assinatura do acordo Brasil-Alemanha.
A criação de um banco de combustível nuclear sob o controle da AIEA, e não dos países produtores de urânio enriquecido, é uma garantia de que episódios como o que ocorreu com o Brasil no passado não se repetirão. A única condição para o fornecimento de combustível por esse banco é que o país tenha boas credenciais na área de não-proliferação nuclear.
Para o Brasil a existência de um banco de combustível não tem maior interesse, mas para países como o Irã, o Egito e até o Iêmen (!), além de vários outros que desejam instalar reatores nucleares, resolveria o problema de suprimento e tranquilizaria as nações preocupadas com a proliferação nuclear.
A proposta russa foi aprovada por 24 votos a favor e 3 abstenções (Índia, Quênia e Turquia). O Brasil votou contra, juntamente com Argentina, Cuba, Egito, Malásia, Paquistão, África do Sul e Venezuela.
O argumento usado pelos países que votaram contra foi o de que eles têm o “direito inalienável” de enriquecer urânio (e desenvolver todas as tecnologias necessárias), de acordo com o parágrafo IV do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Segundo eles, a criação do banco vai enfraquecer esses direitos. O uso do “direito inalienável” de enriquecer urânio acabou virando uma forma de reafirmar as tendências nacionalistas extremas que vigoram hoje no Irã.
A verdade é que há muitas formas de exercer a defesa da independência nacional, e a mais consistente é garantir à população condições de segurança e bem-estar para atingir um grau maior de desenvolvimento econômico, social e cultural. A posse de armas nucleares, ou o eufemismo de enriquecer urânio para fins pacíficos, não é a única forma de defender a independência e o orgulho nacional, como faz o Irã hoje.
O Irã não tem realmente nenhuma justificativa sólida para enriquecer urânio. O país tem a segunda maior reserva de gás do mundo, de modo que, a rigor, não tem necessidade de reatores nucleares para gerar eletricidade, não tem nenhum reator nuclear em funcionamento nem grandes reservas de urânio natural. Suas atividades sugerem fortemente interesses na direção da proliferação nuclear.
Há hoje um grande esforço na direção contrária: fazer com que as armas nucleares sejam coisa do passado.
Nosso chanceler, Celso Amorim, já fez, no passado, parte de comissões internacionais que propugnavam a adoção de medidas concretas, como está fazendo agora uma comissão de alto nível organizada pela Austrália e pelo Japão.
As posições que o Brasil está tomando agora no tabuleiro internacional nessa área apontam na direção contrária, o que, a nosso ver, não consulta o interesse nacional.
José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100315/not_imp524319,0.php

Postura de Lula sobre Irã provoca preocupação

17/03/2010

10/03

Reuters

Por Stuart Grudgings RIO DE JANEIRO (Reuters)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de enfrentar problemas dentro e fora do país por causa de seu intrigante apoio ao Irã, no momento em que a opinião pública mundial se volta cada vez mais contra o programa nuclear iraniano.
Lula se recusa a criticar a situação dos direitos humanos no Irã e, no fim do ano passado, recebeu com abraços e sorrisos o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Em maio, ele deve fazer uma visita a Teerã para fortalecer as relações comerciais, embora cresça na Organização das Nações Unidas (ONU) o apoio a novas sanções ao país.

A paciência dos Estados Unidos com Lula foi um pouco mais testada na semana passada, quando ele desprezou os esforços da secretária de Estado Hillary Clinton durante visita a Brasília, para obter o aval brasileiro a novas sanções. Lula na ocasião recomendou “não encostar o Irã na parede.”

Essa abordagem na contracorrente surpreende muita gente que se acostumou a ver em Lula o rosto afável da ascensão econômica e diplomática do Brasil nos últimos anos. O jornal Miami Herald disse em editorial nesta semana que a política de Lula para o Irã é “perigosamente obtusa e indigna de um país que aspira a ser considerado como um igual entre os líderes do mundo.”

Tampouco Israel, onde Lula estará na semana que vem para tentar promover a paz no Oriente Médio, viu com agrado a posição brasileira, já que o Estado judeu considera a República Islâmica uma ameaça à sua própria existência.

Os Estados Unidos e seus aliados querem impor uma quarta rodada de sanções ao Irã por desconfiar que o país esteja desenvolvendo armas nucleares. Teerã insiste que seu programa nuclear é pacífico.

Em ano eleitoral, a postura do governo atrai críticas também da oposição ao governo Lula. “Há um risco político definitivo aqui para os brasileiros”, disse o vice-presidente da entidade Conselho das Américas, Eric Farnsworth, em Washington, e ex-funcionário do Departamento de Estado.

“Obviamente eles escolheram fazer outra coisa, mas a qual custo? Acho que isso irá se tornar cada vez mais uma questão na eleição presidencial.”

VISÃO DE MUNDO DIFERENTE

Analistas dizem que o Brasil, que ocupa uma vaga temporária no Conselho de Segurança da ONU, se vê como um importante freio para que não se repita o consenso apressado e baseado em evidências obscuras que propiciou a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, em 2003.

O papel do Brasil como líder do mundo em desenvolvimento no comércio e em outros fóruns e sua experiência como “rebelde nuclear” também fazem o governo relutar em ceder às pressões de uma grande potência, tornando-se solidário ao Irã, disse o acadêmico e pesquisador visitante do Conselho de Relações Exteriores, Matias Spektor, em Washington.

Na década de 1970, a ditadura militar brasileira desenvolveu uma capacidade nuclear, apesar das objeções de Washington. O Irã tem citado o Brasil para demonstrar que também pode ter capacidade de gerar energia nuclear, mas sem possuir armas atômicas, uma proibição que consta na Constituição brasileira.

“O Brasil está falando da perspectiva da sua própria história. Ele recebia uma terrível pressão (na questão) nuclear”, disse Spektor. “Um funcionário brasileiro me disse que, quando olhamos para o Irã, não vemos o Irã, mas o Brasil.”

Diplomatas do Conselho de Segurança preveem que o Brasil irá se abster ou votar contra novas sanções ao Irã, junto a Líbano e Turquia, também membros temporários, e a China, que tem poder de veto.

“Não se trata simplesmente de se curvar à opinião de um consenso que você pode simplesmente não concordar”, disse o chanceler Celso Amorim na semana passada em entrevista coletiva ao lado de Hillary.

Lula, que diz ser absolutamente contrário a qualquer manobra do Irã para obter armas nucleares, também parece esperar que a abordagem mais branda do Brasil ajude a mediar um acordo que resolva o impasse nuclear.

Isso seria uma coroação para Lula em seu último ano de mandato, mas muitos estão céticos de que ele consiga ter sucesso num campo em que outros bem mais experientes na diplomacia do Oriente Médio fracassaram.

“Os europeus tentaram esta abordagem de duas pistas com o Irã durante anos, e isso deu exatamente em nada”, disse Farnsworth.

Embora o envolvimento do Brasil com o Irã dificilmente irá abalar seriamente suas relações com os Estados Unidos, ele pode gerar fortes questionamentos a respeito da disposição brasileira em ser considerado para a tão cobiçada vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Alguns analistas veem a decisão brasileira de defender o Irã e se apresentar como um mediador alternativo no Oriente Médio como passos no sentido de ocupar um papel mais ativista e destacado nas questões mundiais.

Mas essa política pode parecer tão baseada em uma fraqueza quando em uma força. O Brasil, em geral, tem estado calado nos debates do Conselho de Segurança sobre o Irã, sem apresentar uma solução alternativa à prolongada crise.

“Não me parece que estejamos vendo uma agenda positiva e ativista. Pelo contrário, acho que o Brasil está agindo defensivamente”, disse Spektor. “Mesmo que o Brasil seja uma potência emergente, é ainda um país relativamente pequeno e fraco. Não é um grande ator nas questões de segurança; ainda está aprendendo a fazer isso.”