Abnor Gondim
Por isso, em entrevista exclusiva ao DCI, Duarte listou três pontos inegociáveis na plataforma mínima apresentada pelo PV aos presidenciáveis: posicionamento contra a revisão do Código Florestal, novo debate sobre a retomada do Programa Nuclear Brasileiro e reestruturação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Seja eleito quem for, o PV continuará contra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) porque negligencia a sustentabilidade das obras. “Está tão acelerado que atropelou tudo e todos”, criticou.
Confira os principais trechos da entrevista.
Por que a tese da neutralidade seria a melhor opção para o partido?
Não se trata de neutralidade. O que decidimos foi a liberação do voto para que eles façam o que mais se aproxima dos princípios estabelecidos pelo PV. Apostar hoje numa candidatura seria temerário porque causaria tensões fortes dentro do partido.
Fale um pouco sobre o PV, criado para combater as questões relacionadas à utilização da energia nuclear.
A questão nuclear foi uma das bandeiras do PV. Mas o PV também teve e tem como bandeira a luta pela paz, e por uma política decente, ética, entre outras propostas.
O caso “Césio 137” tem a ver com as questões de energia nuclear no Brasil, no que diz respeito ao trato dos resíduos também?
Sim. A questão do acidente com o césio 137, ocorrida em Goiânia em 1986, está sempre presente porque é exemplar e não se esgota. São os mesmos que ainda hoje cuidam (e mal) da questão nuclear no Brasil, por meio da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Eles se autofiscalizam, o que é contrário ao bom senso e às normas internacionais. A CNEN, como o mundo inteiro, não sabe o que fazer com resíduos que duram milhares de anos, mas isso não os preocupa. Energia nuclear é um negócio caro e perigoso, e tratado de forma fechada, pelos militares.
Quais são os pontos inegociáveis na plataforma mínima do PV? A princípio, por exemplo, a revisão da hidroelétrica de Belo Monte iria ser colocada na plataforma, mas foi retirada.
Apresento três iniciais: um, a falta de posicionamento do governo em relação às mudanças que estão sendo propostas para o Código Florestal. Não se justifica fazer vistas grossas ao que os ruralistas estão fazendo no Parlamento; dois, a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, sem uma revisão e o devido debate; três, a clareza de como o governo pretende executar uma política nacional de meio ambiente, que passe pela reestruturação de todos os órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
Qual dos presidenciáveis tem histórico e compromissos mais próximos das ideias do PV?
Os dois projetos são muito parecidos. Eles buscam o desenvolvimento e negligenciam os aspectos ambientais. Ainda não temos uma posição final sobre a questão.
Qual será a posição do PV no futuro governo? Vale lembrar que, de acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o PV foi um dos partidos mais governistas do governo de Lula.
Não é verdade que fomos governistas: o PV sempre foi independente. O fato de termos integrado a base do governo não significa que lhe demos apoio incondicional. Em todas as questões que iam de encontro ao programa do PV, não votamos com o governo. Não podemos discutir futuro governo. Discutir isso é discutir eleição. Estamos discutindo com os candidatos para que assumam as propostas do PV.
Quais foram as principais vitórias no Congresso neste ano?
Ter resistido a uma agenda ruralista para o novo Código Florestal; a aprovação da lei que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos; freamos a flexibilização da proposta de licenciamento ambiental na comissão de meio ambiente e em plenário; conseguimos colocar a questão do amianto na agenda brasileira, enfrentando a omissão do governo diante do tema e a bancada do crisotila no parlamento; a Frente Parlamentar ambientalista, liderada por um deputado do PV (Sarney Filho), articulou-se com ONGs, ambientalistas, estudiosos, técnicos, e fez grandes debates; a bancada apresentou uma série de projetos. Há reconhecimento público do nosso trabalho. Citamos o jornal “Congresso em Foco” que tem, na lista dos cinco parlamentares mais atuantes na questão ambiental, quatro do PV.
O partido aceitará convites para integrar o futuro governo, a exemplo do que ocorreu no governo de Lula? Marina poderia voltar a ser ministra do Meio Ambiente?
Não dá para discutir governo sem ter governo. Quanto a Marina e o que ela vai fazer no futuro, vejo, aí uma questão pessoal da senadora. É cedo e indelicado discutirmos isso. Temos no horizonte apenas a eleição do segundo turno.
Qual é a estratégia do PV em relação às mudanças no Código Florestal aprovadas com o forte apoio da bancada ruralista?
O Código deveria passar por uma reflexão sobre o seu conteúdo. Mas não dentro da pauta e da urgência estabelecida pelos ruralistas. Essa norma não pode ser mudada por um setor, apenas o do agronegócio, como está sendo feito.
Qual a posição do PV em relação ao PAC 1, e agora, ao PAC 2?
O Brasil precisa de investimentos em infraestrutura e precisava sair do marasmo em que vivia. O PAC, porém, traz um conceito desenvolvimentista que se resume em “a obra pela obra”. Negligencia aspectos como sustentabilidade. Está tão acelerado que atropelou tudo e todos. A definição das obras não segue uma lógica do bom senso; investe-se em obras que poderiam ficar para depois. O PAC também reforça o centralismo de Brasília, como se os tecnocratas de Brasília soubessem o que é bom para todo o País. Essa é uma prática conservadora. É a velha política do saco de cimento. Se é obra, é bom, manda fazer.
O vice na chapa de Marina, Guilherme Leal, disse que o PV não deveria aproveitar o escândalo da Casa Civil na campanha. Por quê?
O PV tem como princípio não agir de forma oportunista. Queremos vencer por mérito, não pelos fracassos alheios.